Hoje é dia de mudar muita coisa. Talvez nem mudar, de regressar ao que já foi. De regressar ao ontem que constitui o amanhã. Pensamentos, recordações. Com saudade olho para a parede branca, dentro deste quarto tudo é igual. Já a melodia é diferente e encontro a minha mente mais limitada. Vezes e vezes sem conta tento encontrar o que pertence ao passado, agarrado à memória do que uma vez foi. Tento não cair no desespero e seguro-me com força ao presente, ao conhecimento que tenho agora mas não consigo deixar de invejar a brisa de Verão do passado que trazia a ignorância tão libertadora. Agora o que tenho desses tempos são discos riscados de momentos ultrapassados.
Condicionado a este cubo, tão familiar que é perigoso aproximar-me das paredes, ando de um lado para o outro. Por paredes de vidro vejo outras pessoas a passar e nem sequer se dignam a olhar. A besta enjaulada, depois de tanto tempo, encontra o precioso conforto e adapta-se às circunstâncias da vida. O escuro abate-se cá dentro e a dor brilha na escuridão. Só não vê o cego desafortunado, o resto ignora. Tudo tão ridiculamente claro no escuro. Tudo o que me tem passado ao lado, as curvas que me recusei virar, os abismos em que mergulhei. Toda essa vastidão agora vem a mim na noite. E também isso faz parte das memórias, do meu passado que irá ser o meu futuro. Por todas as mágoas, deixei-me ir para um estado de misantropia, conquistado lentamente pelo medo de ser e confiar. Agarro-me ao que sou e deixo que o tempo faça os reparos ao que o tempo já danificou.
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