quinta-feira, 21 de abril de 2011

O sangue desconhecido

Vimos as pessoas a cair na rua, no seu embaraço, vergonha misturada no sangue que escorre pelo regaço da verdade. Rasgos de memória passadas a segunda avaliação do ser. Violentos ventos temporais atravessam esta redoma em que vivemos, a nostalgia é confundida com melancolia, olhos para baixo, sorriso trocado por um ranger de dentes, punho fechado, impedir aquela lágrima de descer é crime. Mãos no leme e segue a vida, atravessando este oceano, não encontrando porto seguro para encostar. Escondemos o que nos mais convém, segredos obscuros, denominados fantasmas que nos perseguem, tentando fazer de nós pessoas melhores, tentando encontrar forma de nos dizer que somos algo e que outrora fomos qualquer outra coisa. Tudo está em mutação.
A luz está fora do nosso encalço, a esperança foi desviada para os mais jovens, tal como o gordo fardo que os obrigaremos a carregar quando pegarem na confusão que criámos. Nalguma altura a destruição teria de parar. A confusão já é tão grande que tentar ignorar ou passar para outra geração é impossível. Já não fechamos olhos ao que acontece aqui. Mas palavras são insuficientes, acções são limitadas, somos censurados debaixo de um brilhante céu azul. Pode parecer aqui que a liberdade mora e caminha mas é ilusão. Somos mentidos, diariamente, ocultam-nos o que lhes convém e esperam que aceitemos o cargo que eles já não querem. Hipócritas conquistam o poder e dão a cara todos os dias, pelo dinheiro ao final do mês. Eles que já tanto nos enterraram, não nos querem massacrar mais, tirar-nos mais do que não merecem, fazer nada enquanto que nos esfolamos? Somos povinho cego e surdo, ignorante. Triste amor à pátria que nos faz o sangue fervilhar e jorrar para o chão. Depois somos vistos como vagabundos bêbados que passam a vida à beira da estrada a perder a juventude.
Como podemos conquistar a verdade se vivemos na sombra? Falam números por nós, outros dão a cara por nós, falam do que pouco sabem porque nunca fizeram realmente parte de nós. Já não sei o que é pior, se mentirosos, se hipócritas. Passamos todos pelo mesmo, somos todos o mesmo. Olhamos para os outros de lado, olhares cheios de desconfiança, querem fazer-me sangrar, ajoelhar e dar tudo o que tenho de individual por convenções sociais estabelecidas há mais tempo do que o tempo se lembra. E se respondemos? Somos agressores, vilões que tencionam magoar, roubar, estripar. Injustamente somos julgamos mais uma vez, dia-a-dia, o tempo passa e somos obrigados às sombras, malícia que um ser maligno atirou para a superfície para os testar e magoar. Mas mantêm-se fortes! Firmes na sua convicção de um homem imaginário, de um livro de ficção que não é nada mais uma compilação de tantas outras histórias de outros tempos, tempos mais sábios, mais respeitosos. Cada vez que saem da cama e pensam mais cavam as suas covas, mais se enganam.

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