terça-feira, 26 de abril de 2011

Novos trilhos

Por estas terras viajo, ainda não sei bem onde vou parar. Vou esforçar-me por viver, por encontrar tudo o que quero para mim. Debaixo de céus azuis ou nuvens carregadas, caminho à beira da estrada, por entre vales verdejantes onde muitas pessoas passam e nenhuma pára para absorver esta beleza. Vou andando, conhecendo novas pessoas e novas culturas, as verdades diferentes deste planeta, tão espalhadas. Sem pressa, vou absorvendo o que o tempo me deu, esta oportunidade de fugir à civilização, a tudo o que definiram para mim ainda não sabia eu quem era. De tão poucas responsabilidades, apenas procuro um tecto para me abrigar durante uns dias e uns trabalhos para ajudar a comida chegar à boca.
O dia ainda já mal nasceu e eu percorro esta vereda destinada à vila mais próxima disposta a acolher-me. Com o Sol a espreitar pelo horizonte, paro para contemplar o que a Deusa me ofereceu. Deixei a minha família para trás num misto de consolação e tristeza. Mas vi apenas bem na minha decisão. Fugi de casa para aliviar os fardos financeiros que pesam na consciência da minha família por negligência ou simplesmente incompetência boémia do meu pai, de quem pouco me orgulho, de quem fujo. Vi também bem na minha saída porque me abriu portas para o mundo, liberdade para enveredar caminhos novos, conhecer tudo aquilo que lia a partir de um ecrã. Com saudades deixei para trás guitarras, animais e muito mais. Acima de tudo as pessoas que me criaram, que cuidaram de mim e que ainda hoje se preocupam comigo.
Todos aqueles filósofos e sonhadores que dizem que casa é onde o coração está estão errados. Até mesmo os mais simples e caseiros se enganam. A nossa casa é o coração que nos acompanha durante a nossa viajem, seja de casa ao café, seja pelo mundo inteiro. A nossa casa é todas as pessoas que conhecemos durante essa mesma viajem e que mostram que se preocupam e que gostam de nós genuinamente, independentemente dos erros que tenhamos feito ou de onde estejamos. É precioso todo o tempo que passamos com quem nos queira abraçar, agarrar com força perto deles e não largar. Talvez do que sinto mais falta agora, os seus sorrisos. É lamentável como os erros de uma pessoa afectam tanto a vida daqueles à sua volta. E depois essa pessoa magoa e pisa ainda mais essas pessoas. Vergonhoso, pária que substitui alguém que deveria ter construído um paradigma para as próximas gerações. Mas deixei isso para trás. Aprenderei a ser alguém diferente. E aí, com sorte, terei alguém a quem oferecer a minha sabedoria de vida, tudo o que aprendi nestes caminhos.

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