terça-feira, 18 de dezembro de 2007

The dog that cried the moon

Pode ver-se melhor em: http://ollan.deviantart.com/art/The-dog-that-cried-the-moon-72422187
Tentativa de desenho:

Some kind of monster

E ele permanece sentado, no seu perfeito estado vegetal, movendo apenas o fluxo de pensamento no interior do seu cérebro morto ou congelado, imóvel e demasiado pesado para ser carregado. Os seus olhos permanecem vidrados mas ainda assim concentrados, com o mínimo de vida, a olhar para o mais além, olhar penetrante que atravessa paredes e pessoas, destrói mentes, pensamentos e vidas, nunca perdoando os erros ou pecados do passado das pessoas. A sua vida pertence a quem alguma vez se importar de tentar tirá-lo daquele estado morto, frio e completamente branco, mostrando vida apenas nos seus olhos, profundos, um túnel inacabado para uma alma perturbada e decadente.
As vozes ecoam na cabeça, vezes sem conta, perdidas numa gruta obscura que serve de habitat para todos os monstros dos pesadelos das crianças perdidas, órfãs e indesejadas. As vozes perseguem, ainda mesmo no seu sono inerente a tudo o resto, a constante morte do corpo ainda vivo e a respirar, e a voz do desespero transforma-se numa forma imperceptível de um grito mudo que nos faz a todos surdos. Um leve assobio na escuridão e tudo acaba, toda a escuridão e claridade, todas as duvidas existenciais ou desinteressantes, todos os pensamentos. Tudo nos persegue, no entanto, o monstro mantém-se vivo dentro do corpo vegetal daquele sinal.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Lay to rest

Accordare per alteru dia...

As poucas

Já passou mais de um minuto desde que cá estou. De facto, já passou mais do que uma hora desde aqui estou e nada de especial acontece, nada muda a vida nem faz com que desvie a visão das letras que se encontram à minha frente. O oxigénio já parece pesado e o acto de respirar, esse mesmo que é essencial, acaba por parecer monótono. Já o fiz antes e cada vez mais me farto de o fazer, sempre a mesma rotina. Isto tudo porque, cada vez que saiu de casa, sei que vou voltar ao fim do dia e ouvir alguma história que já ouvi milhares de vezes e que não me interessa absolutamente nada. No meu grande egoísmo próprio e que me caracteriza, desligo. Fico sozinho no meu próprio mundo.
As palavras não saem. Parecem que foram congeladas pelo frio exterior que não sinto ou que, se sinto, ignoro com o simples poder da mente, restringido ao pouco que a alma contribui para a manutenção do corpo. A música é sempre a mesma e enfadonha tristeza que já chega a pesar-me na mente, que já contamina o ar à minha volta, mantendo-me nostálgico e melancólico. Relembro tempos de outrora e passada felicidade, tempos que acabaram demasiado depressa e que avançaram para outra felicidade. E eu aqui, sempre parado no mesmo sítio, apercebendo-me que me esqueci da capacidade de amar, eu ou outros, que me fechei mais do que eu próprio pensava, apesar das palavras que me saem. As poucas, como já referi.

Army of two

Create your own world,
Rule the land of your imagination,
Don't regret your word,
Gaze at your creation.

See the trees rising,
As the water falls,
No children fighting,
No more mother calls.

They walk alone,
In the shadow of the mistake,
Together they're one,
The souls of the Devil they'll take.

Regret for wasted years,
Forging madness,
Cried all the tears,
Immune to all the sadness.

Army of two,
Stealth never ending,
You're true,
Like you're always resenting.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Silêncio

Como duas flores a crescerem lado a lado, alimentando-se do Sol e das águas das chuvas, sempre permanecendo erectas e frágeis ao toque de um estranho, dois jovens, com os destinos entrelaçados, seguiam a sua vida desconhecendo o toque do destino, transformando tudo aquilo que eles acreditavam e toda a realidade que demoraram anos e formar em algo único e com apenas um caminho, uma saída. Toda a felicidade se tornava relativa e fútil, uma coisa passageira e de pouco significado, pois estavam incompletos sem a permanência um de o outro na vida de cada um. As palavras ficavam com pouco significado e apenas o vento lhe tocava, empurrando-os, cada vez mais aproximados um do outro, encontros subtis mas que teriam mais significado quando tudo acabasse.
O planeta continuava a girar, apenas as rochas não se mexiam, os continentes não se aproximavam mas os seus toques pareciam mais do que profundo, eram como que picos que tocavam e se enfiavam na alma, por baixo da pele e da carne, constituindo o esqueleto da acção e o significado do amor. O sangue brotava de todos os canais, esmorecendo no chão, fazendo mais flores aparecerem, crescerem do nada, das terras inférteis que existiam para ocupar espaço, constituir um planeta fútil. O tempo passava, os jovens crescem e começam os contactos, os olhares, as palavras, os sorrisos. Todo o jogo começa, os dados são rolados e a vida transforma-se num acaso, numa sorte ou azar momentâneo. Tudo à volta é relativo e desfocado, tudo à volta é inútil e consegue desaparecer apenas no primeiro contacto.
Os jogos terminam, o prazer passou e o rapaz que deixou de ser rapaz fala com uma voz terminal, consumindo o desejo do fim de tudo, revelando a sua podridão e solidão no interior. A sua alma, mostrando a sua real ausência de cor, assustando e afastando brutalmente a rapariga, libertando-se para o espaço aberto, encontrando a tão desejada escuridão e vastidão do Universo, a morte aguardada por tanto tempo. Agora não resta mais nada se não fragmentos do silêncio audivel da sua voz interior que ainda reside na rapariga.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A premonição

A lareira contém a chama angelical que arde, nunca parando, iluminando esta sala e trazendo calor aos frios e feridos anjos que hoje se ajoelharam perante a face da sua própria morte, condenando o dia em que o seu mestre foi morto às mãos de um desnaturado que nunca pediu para nascer, sentindo as emoções de um ser humano uma vez mais. Memorizando cada segundo da sua perdição, a rendição que causou o caos e a miséria na terra, vendo as imagens de horror e medo nos olhos e faces das pequenas crianças, inocentes e que se limitaram a nascer para sofrer tais tormentas. A sua ajuda reside no interior da obscuridade. Mas há medo de a ir buscar.
No interior, o grito é mudo, inaudível por humanos mas uma constante tortura aos anjos derrotados que choram lágrimas de sangue, filtradas para deixar passar apenas a pureza e a inocência, tentando que estas cheguem à terra e tragam um bocado de luz à matança no mundo abaixo deles. Assombração dos seus erros e pecados, nunca esquecidos mas sempre perdoados, a sombra domina o que resta da humanidade, escondida em qualquer canto húmido com o medo a cicatrizar o corpo e alma. Tudo se torna fútil e tempo desperdiçado, nenhum ser humano sobrevive à catástrofe. No entanto os anjos ainda choram gotas de de sangue que nunca chegam ao mundo. Cegos, não desejando mais ver a sua premonição, vivem apenas a memória do que está para acontecer.
O fogo ainda arde, ainda aquecendo e iluminando a sala. Mas os anjos não se encontram lá mais. Agora há apenas o vazio de uma batalha perdida.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Conto de um velho moribundo (deixando as borboletas voar)

Nos tempos das descobertas, um velho mostrou ao seu neto o conhecimento de uma vida, as lamentações da sua realidade distorcida. Assim o velho o disse:
"Há vezes em que olhamos para o lado e vemos uma pessoa completamente diferente de nós, que tem gostos diferentes, que pensa em coisas diferentes, que apenas é diferente. Muitas vezes temos em mais alta consideração a estética exterior e não queremos saber da interior, simplesmente ignoramos a passagem para a alma da pessoa e ficamos sempre com a memória da futilidade. A muitos, isso traz alegria, isso traz o prazer inútil que perseguem como objectivo de vida. Poucos são os que realmente pensam em como será a personalidade da pessoa. Ainda menos são aquelas que não se importam, aquelas que estão aqui de passagem e que não trarão nenhum significado à vida das outras pessoas.
Muitas são as pessoas que nos trazem alegria e prazer mas muito rapidamente isso pode acabar e transformar-se num ódio puro, num desejo de morrer ou matar, deixar tudo para trás apenas para esquecer essa pessoa. Os pecados do passado nunca podem ser redimidos, nunca podem ser esquecidos, apenas porque são mais um forma de não errarmos outra vez. Mas ninguém se importa em assimilar os erros do passado para não voltar a cometer. Vão sempre contra a parede, aleijando-se, voltando a levantar-se, apenas para correr contra a parede mais uma vez. O pior que se pode fazer é mesmo esquecer a pessoa, deixar de lhe falar e de se importar em como está essa pessoa. A pessoa vai magoar-se e notará que aquilo que lá esteve outrora, já não está lá outra vez para amparar o erro. Talvez aí a outra pessoa repare que o erro também foi seu e tente compensar, nunca conseguindo redimir. Talvez seja tarde demais para tal. Mas também é um erro guardar rancor para com as pessoas do passado. Lembra-as bem assim como te deves lembrar destas palavras. Deixa as borboletas voarem livremente e notarás que elas te contam a verdade."
Proferindo estas ultimas palavras, o velho caiu no esquecimento que apenas não afectará a mente do seu jovem neto, cicatrizado na sua vida pela sua infância cinzenta pelo mundo que lhe caiu aos ombros, a realidade distorcida de um velho moribundo.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Hello! (philosophy of the dream)

Hello! Show me the real me, the one that exists trough the soul and not trough words that have no meaning, no feeling. Welcome at wherever you are, that inexistence, seeker of the poor souls that navigate the forbidden seas in search of a myth, in search of nothing at all. I forgot the words that were to follow your conclusion and now the halo is built inside, making me shallow and futile.
Hello! Let me learn the real you, the one that is in my mind constatly, swiftly disappearing in the black, fading resistance to the unknown and obscure, that immortal passion for the dead. Uncommon revelation of a human mind that was born to die, living in the middle with the cursed soul that has killed the god that soulless humans worship. Don't care to tell me who is outside, just show me the burden that you carry inside, that void that is the place of your soul. Then welcome me into your nothing.
Hello! Show me the meaning of life, what is the purpose of breathing oxygen or polluted air that brings blood into my veins. Won't you work to make this world a better place to die, a more decent piece of earth where you can lay your head and rest forever? But that comes with a lot of work and pain, the pain that your body doesn't want. So will you give up of this common sense and this disposable value just to trade it for a little piece of my nothing? From here, you'll take nothing at all.
Finally it's time to say goodbye. The night is not a mere child now and the moon is at the top of the Universe, watching us, protecting us when we sleep. The nothing you seek hunts you in your dreams but don't care to take the self destruction rote, for it is in your way of life anyway. So it is in mine. You finally fall asleep without the quietness you need.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Como estais amigos?

Como estais amigos? Time as elapsed and we continue walking the same demented way, making the same old mistakes, contaminating and destroying all that was once good to us. We close ourselves and we wish by our lucky stars for no one to find the sacred and forgotten passage to our hearts and the entrance to our souls. Still we sworn blasphemies, still we drink the whine and continue to have this illusions of the dead, their rituals and sins, their death's were nothing more than another human soul. We continue to hear our song.
The smile petrifies as the face remains scared by the mistakes. Loud shout to anyone who bothers to listen to forsaken. Mute cries to the careless and hopeless, the one's that walk on the streets and wish nothing more than a light to guide them to safety, to home. But there's nothing more waiting for them except the holy horror and holy dream that spins continuously in my head. The words of comfort never come easy and they never seem real. They're existence is a threat to our reality and the crying you hear in the night is not from the child in your head, but from the lost souls that surround you, feeling the warmth of your friendship.
The music in the background is just the confirmation of a re-birth, a member from our brotherhood of blood that has taken another body and will live once again, cursed and in the shadow of his eternal damnation. The wind blows so softly the words we fell that, sometimes, it gets lost in our ways. And all the words we say are another confirmation that our friendship rises, day by day, essentially due to memories of our past bodies. See you in another lifetime, my friends, my brothers, members of my blood and connected to my soul.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

The crypt (the souls always remain)

You know that people come and people go, the souls always remain within our space but never in our sight. And you still want to confront the creator for the failures and the pain you feel inside, the simplicity of your existence, unknown and indifferent to the rest of the world. So you try once again to battle and once again you fall, once again you get hurt that feeds your excitement and causes you pleasure. But you have to know when to stop, when to give up and realise that people come and go, your life goes on, no matter our many tears you cry or how many punches you throw at yourself as you remind yourself what you could do with the lost ones.
A victory never tastes like a victory when you force it, when you try so damn hard to get it that someone just gives it away in a gesture of pity. So that causes trouble and fights, never the pleasure that you seek, even in the pain that you feel inside and the tears you cry in the night. Alone but not lonely, you feel safer inside when the moon shines right trough the window directly into the bed where you lay. It comforts you and makes you fall asleep and dream the worst nightmares you could ever imagine. Cry as the black sky turns red of blood, the blood that man bled to make this Earth what it is. They fought for your existence and there you are, crying.
The sight of the cold crypt in the shadow of the moon, the vision in your window, your mind, it's apocalyptic and cursed, falling apart and regenerating itself to continue to be your sight in the night. The wind blows and the autumn leafs fall upon the crypt of marble, grey and in decay, slowly tearing down the rest of your life. Close yourself in self-pity to make the anger fulfil the body. And the souls will always remain. Remember that.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Wilderness of the creator

There's the smell of loss in the air, the perdition of another soul to the emptiness of space, a ghost that no-one will bother or cry for, a ghost that will never hunt no-one. So the world goes on, no-one bothers, no-one cares, in time, it all will come to an end, with endless crying, in the acid rain, creating an acid reign, filled with the putrid smell of human meat, tasting the harvest of men. The fires consuming the sins and the sinners, the souls crying but no-one or god listening. Didn't cared before, I still don't care. White in their faces as the skin disappears, as the blood comes out and the tears stop tasting sweet and start tasting bitter.
The human cluster begins to fain as the pieces of the final day finally start to fall. The ethereal of meaningless motion and wills against the wills of the rotten gods. They were here once, they are now gone forever. The serenity and quietness of the earth as it continues it's course into the void in the sun, no-one to watch it explode because no-one cared. Continuously, the destiny comes to an end, again and again, the eternal circle, the closed ring the burns without any affinity. To rid the disease of mankind, making the grey look like green and the red look like blue once again, as it was in the beginning, as it should always be. Murder, uncommitted crime by the handicap gods who were programmed to kill and re-construct this Universe. Once again, the pieces of the puzzle are glued together.
The waters of the rivers turn black, the life is consumed to the bitter end of a child's smile, innocence taken away and forgotten, given lust to the one's before the trees, the beginners of the sin, the creators of the hate and self-hate, masochism and pain infliction phase. The funeral of the genesis that was washed away by the mind, weak and wounded, left behind and closed, awaiting nothing more than the comfort within. Variable function to the final dawn, the sun rising and destroying. Blindness is the key.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Choke

O vento sopra e a noite torna-se numa brisa gelada que pára, congela os corações que batem a uma velocidade fora do comum. Todo o calor foi esquecido ou guardado para mais tarde recordar, uma chama que ainda arde no meio do nada e da escuridão é mantida acesa a todo o custo. Os sacrifícios são apenas equivalente ao tamanho da alma, do quanto ela procura a salvação e a guarda de um outro corpo após a morte de este. Todo o direito, todo o dever, esquecidos ou perdidos no abismo em que cais quando ficas isolada e fria, não querendo ninguém por perto para te aquecer. O sacrifico mantém-se equivalente ao tamanho da alma, por mais fechada que esta seja.
As portas entre-abrem-se à tua passagem, resultado do poder do ódio e sede de vingança, a visão nocturna do vermelho nos teus olhos, o desejo de sangue. O chão estremece e a lua chora a tua perdição, no entanto não pára de brilhar, criando o seu reflexo sobre o rio distante, visível do teu covil, onde te sentes segura, onde outrora me levaste para ficar cego com a tua visão. Ainda o estou. A tua respiração torna-se visível, a tua pele torna-se clara, pálida, quase transparente, ficas quieta a olhar o exterior como se nada demais fosse, como se o mundo pudesse explodir agora e tu não sentirias nada. Fechada em ti própria e no teu egoísmo.
Deixo os meus pensamentos para trás, tal como tu me deixaste a mim. Tento seguir em frente, sempre enganando-me, sempre esbarrando contra uma parede que se recusa a mover ou recuar. Auto destruo-me, não por ti, mas sim pela minha necessidade de desaparecer e deixar de sentir aquilo que ainda sinto por ti, aquilo que tu nunca chegaste a sentir por mim. Rastejo para algo que me vai deitar mais abaixo, mas não consigo apagar aquilo que sinto por ti. Escrevo-te mais palavras ignoradas porque ainda gosto de ti, tal como tu sabes. Em vão mas isso sempre será.

O Sol desaparece no horizonte

O Sol desaparece no horizonte,
As palavras ficam retidas no ar,
A sombra toma conta do monte,
Permitindo a minha mente voltar a sonhar.

Os desejos de chuva assolam,
O fantasma do meu ser torna-se omnipotente,
Os pesadelos do passado voltam,
Mostrando aquilo que já não se sente.

Observo as folhas cairem,
Enquanto que as horas correm,
Oiço as crianças a chorarem,
Destino com defeito para esses que voarem.

Tudo vem a um fim,
Desejando que a noite caia,
Enquanto que os teus pensamentos se assemelham a serafim,
Esperando que a morte finalmente saia.

Respondo a mim mesmo aquilo que vejo nos teus olhos,
Continuo nesta dor cardíaca,
Caminho neste jardim de carvalhos,
Abraço esta ilusão doce e desnecessária.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Comboio do não regresso

O comboio atravessa a noite, toda a escuridão é apenas mais impulso para trocar todo o movimento pela pura isolação. O som do comboio, barra a barra, torna-se hipnotizante. Tudo converge num enorme silêncio maléfico que transforma os pensamentos em sonhos, as memórias em esforços inúteis. O tempo passa lentamente e lá fora está frio. Não querendo sair da realidade colorida em que encontro, onde nós nos reencontramos, sou puxado de volta a esta realidade morta onde o comboio se move, transportando pessoas, talvez até almas, seres invisíveis e fúteis à minha existência. O comboio move-se perseguindo a existência do som remoto e automático.
A escuridão lá fora é dominante, aliando-se ao frio que congela o coração e deixa de se ouvir o bater do coração para se sentir o sangue a ser bombeado para o vazio. O desejo de beber o sangue que cai no esquecimento para manter a sobrevivência do monstro no interior fica submerso enquanto que me mantenho hipnotizado. A visão de algo que já não está lá torna tudo o resto redudante. Não há mais medo, não há mais desejos, apenas a visão. E não passará mais disso. E tudo se estraga, a imagem arde na mão e o que resta é cinzas, como sempre foi, como sempre será. O pecado foi consumindo pela consolação no meio de toda a escuridão que ela teme. Não haverá mais barulho de fundo, mais mentira ou verdade, apenas a realidade daquele comboio em movimento.
O comboio pára e o silêncio instala-se entre todos nós. Os pensamentos ficam suspensos até aquele movimento repetitivo e metálico recomeçar. Continua a haver o desejo, continua a haver o pecado e continuo ali sentado a olhar para o exterior. Apático, distraído, com todas as defesas em baixo, com a isolação a continuar a ser quem manda na alma, os olhos mantêm-se vidrados, olhando para o infinito da escuridão no exterior. A procura pelas estrelas é inútil, apenas nuvens se mostram no céu e tudo o resto fica cinzento e decadente. Ninguém entra nesta carruagem, tudo se mantem igual mas tudo me soa diferente. E finalmente desejo o movimento continuo para que o som me hipnotize mais uma vez.
O exterior já não está parado. Se calhar até está. Se calhar é simplesmente a massa dos nossos corpos que se movimentam enquanto que tudo o resto está parado, as almas são arrastadas e tornam-se indiferentes tudo o resto porque não conseguem a escapar à sua prisão. Tornamos-nos em pontos insignificantes, futilidades indesejadas ou indesejando a sua presença neste lugar. Nada mais interessa que não o movimento continuo que faz nascer o som hipnotizante. A viagem de volta a casa não se torna em nada mais do que momento passados na liberdade remota e física. No final do dia, o que conta é aquilo que já passou, não aquilo que se está a viver agora. As memórias mantêm-se sempre, aquele comboio marcar-me-à sempre a memória.
E os pensamentos formam-se e apenas uma pergunta se formula e se mantém: as minhas palavras estão a perder sentido e sentimento, estão a ficar sem a mínima qualidade e já não me dão o repouso que me davam no inicio. É verdade? Se for, é tudo culpa vossa. Eu tentei fugir e isolar-me. Nunca me deixam.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Decaimento (tudo arde)

Sinto-me um vírus. Infecto, destruo, ocupo, tento conquistar mas volto sempre a cair, a arder, a desaparecer. Indesejado ou simplesmente nunca adequado ao grupo ou às situações, afasto-me e fecho-me em mim próprio porque sei que sou o único que não vou magoar a minha alma, apenas o meu corpo. Destruo-me lentamente porque não desejo continuar com esta fragilidade de mente, com esta transparência de alma, procurando sempre aquele canto obscuro onde me sinto seguro e a que posso chamar casa. Guardo os meus segredos, aqueles que levarei para a campa. E são-me essenciais para continuar a sentir aquela razão para ser forte e ter os meus princípios, mais razões para lutar por algo mais, algo que parece que não mereço.
As imagens ardem na minha mão. Mesmo a chuva que cai das nuvens não apaga a chama, apenas continua a cair e nada mais. Tudo à minha volta parece falar e cair, desmoronando-se e ardendo. Tudo arde aos meus olhos. E a chuva continua sem afectar. Apenas os relâmpagos que caem é que começam mais fogos. Desisto de tentar compreender as razões para tantas destruições. Ninguém importa, ninguém sequer tenta importar-se com a decadência em que este mundo e esta humanidade se transformaram. Nunca fomos assim, ficámos assim devido à dor e esquecimento no passado. As imagens agora não passam de cinzas e juntam-se ao vento para desaparecerem, deixando-me sozinho mais uma vez. Sento-me no chão molhado e eu próprio começo a arder. A chuva ácida destruiu-nos.
Vagueei os espaços da tua mente. Tentei controlar todas essas essências negativas para que não viessem ao de cima e acabassem com isto. Mas foi tudo em vão. Acabei por te assustar, agravando o facto de que já não gostavas de mim, não terias interesse em continuar com esta mentira. Acabou por ser melhor assim, ninguém mais sofreu, não houve mais discussões desde então e ainda nos vemos nos corredores deste manicómio. Os caminhos que levo, todos esses levam ao mesmo lado. E a destruição que ocorre à minha volta deve-se à má energia que deixaste em mim. Desapontamento de algo mais que sempre desejei mas que nunca foi correspondido. Caminho em frente porque é o único caminho. Mas mantenho-me calado porque nada mais quero dizer. Apenas acabou.