A lareira contém a chama angelical que arde, nunca parando, iluminando esta sala e trazendo calor aos frios e feridos anjos que hoje se ajoelharam perante a face da sua própria morte, condenando o dia em que o seu mestre foi morto às mãos de um desnaturado que nunca pediu para nascer, sentindo as emoções de um ser humano uma vez mais. Memorizando cada segundo da sua perdição, a rendição que causou o caos e a miséria na terra, vendo as imagens de horror e medo nos olhos e faces das pequenas crianças, inocentes e que se limitaram a nascer para sofrer tais tormentas. A sua ajuda reside no interior da obscuridade. Mas há medo de a ir buscar.
No interior, o grito é mudo, inaudível por humanos mas uma constante tortura aos anjos derrotados que choram lágrimas de sangue, filtradas para deixar passar apenas a pureza e a inocência, tentando que estas cheguem à terra e tragam um bocado de luz à matança no mundo abaixo deles. Assombração dos seus erros e pecados, nunca esquecidos mas sempre perdoados, a sombra domina o que resta da humanidade, escondida em qualquer canto húmido com o medo a cicatrizar o corpo e alma. Tudo se torna fútil e tempo desperdiçado, nenhum ser humano sobrevive à catástrofe. No entanto os anjos ainda choram gotas de de sangue que nunca chegam ao mundo. Cegos, não desejando mais ver a sua premonição, vivem apenas a memória do que está para acontecer.
O fogo ainda arde, ainda aquecendo e iluminando a sala. Mas os anjos não se encontram lá mais. Agora há apenas o vazio de uma batalha perdida.
1 comentário:
Os teus textos confortam-me neste altura má da minha vida.
Enviar um comentário