quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Conto de um velho moribundo (deixando as borboletas voar)

Nos tempos das descobertas, um velho mostrou ao seu neto o conhecimento de uma vida, as lamentações da sua realidade distorcida. Assim o velho o disse:
"Há vezes em que olhamos para o lado e vemos uma pessoa completamente diferente de nós, que tem gostos diferentes, que pensa em coisas diferentes, que apenas é diferente. Muitas vezes temos em mais alta consideração a estética exterior e não queremos saber da interior, simplesmente ignoramos a passagem para a alma da pessoa e ficamos sempre com a memória da futilidade. A muitos, isso traz alegria, isso traz o prazer inútil que perseguem como objectivo de vida. Poucos são os que realmente pensam em como será a personalidade da pessoa. Ainda menos são aquelas que não se importam, aquelas que estão aqui de passagem e que não trarão nenhum significado à vida das outras pessoas.
Muitas são as pessoas que nos trazem alegria e prazer mas muito rapidamente isso pode acabar e transformar-se num ódio puro, num desejo de morrer ou matar, deixar tudo para trás apenas para esquecer essa pessoa. Os pecados do passado nunca podem ser redimidos, nunca podem ser esquecidos, apenas porque são mais um forma de não errarmos outra vez. Mas ninguém se importa em assimilar os erros do passado para não voltar a cometer. Vão sempre contra a parede, aleijando-se, voltando a levantar-se, apenas para correr contra a parede mais uma vez. O pior que se pode fazer é mesmo esquecer a pessoa, deixar de lhe falar e de se importar em como está essa pessoa. A pessoa vai magoar-se e notará que aquilo que lá esteve outrora, já não está lá outra vez para amparar o erro. Talvez aí a outra pessoa repare que o erro também foi seu e tente compensar, nunca conseguindo redimir. Talvez seja tarde demais para tal. Mas também é um erro guardar rancor para com as pessoas do passado. Lembra-as bem assim como te deves lembrar destas palavras. Deixa as borboletas voarem livremente e notarás que elas te contam a verdade."
Proferindo estas ultimas palavras, o velho caiu no esquecimento que apenas não afectará a mente do seu jovem neto, cicatrizado na sua vida pela sua infância cinzenta pelo mundo que lhe caiu aos ombros, a realidade distorcida de um velho moribundo.

3 comentários:

My little Moon disse...

muito interessante... vou mostrar isto a uma pessoa.

Carla Marques disse...

Bónitu! O meu bro é um poeta ;)

sónia fernandes disse...

este merece ser comentado: esta giro!!!!!!!!!!!!!! sem mais a acrescentar