Estes jardins são sobrevalorizados, demasiado usados para metáforas de medo e dor. Labirintos de palavras que acabam por ser desvalorizadas no fim da relação que no início era tão bela, tão perfeita, tão maldita porque fazia o mundo cor-de-rosa e acordavas sem a necessidade de álcool no sangue. Esses jardins passaram e deixaram-te com a paisagem de ruína em que as árvores estão queimadas, os arbustos não são mais do que cinzas de outrora grandiosas e verdejantes folhas. Parabéns por teres desperdiçado todas aquelas oportunidades de teres sido feliz só por achares que a dor era maior que o outro sentimento, aquele que dizes desconhecer e que afastas com tamanha repugnância para que não te percas nele, para que não tenhas de lutar para seres tu novamente, esse ser raivoso, detestável que ninguém consegue domar ou domesticar, dormir debaixo das estrelas.
Estavas tão preocupada em esconder a dor com sorrisos falsos que não viste os sorrisos verdadeiros na minha cara quando te via a aproximar. Mas tu nem davas conta que eu existia. Passavas por mim como se eu fosse um fantasma, como se todos os nossos erros fossem um pedaço de carne que se enterrava na terra para ser vestígios de uma altura de engano. Foges para longe, longe demais, onde eu não te posso ver, onde eu não te posso ter, onde eu encontro a razão para preencher o vazio que deixaste aqui, esta dor no peito, este sentido que rejeito admitir que sinto. Os teus sorrisos esmorecem, para onde foram? Até os falsos, que lhes aconteceu? Fui eu quando declarei interesse que os matei? Se fui, não pedirei desculpa. Muito por outro lado, é motivo de orgulho. É motivo para orgulho porque só revela que há algo dentro de ti que me dá importância, algo dentro de ti que demonstra verdadeiros sentimentos por mim.
Metáfora para o que és, sei que existe uma por aí, ainda por descobrir. Nas sombras escondes os teus olhos, nessa roupa escondes o verdadeiro e puro ser que és, nesta terra exploras a morte dos caminhos na floresta que criámos para ti, há tanto tempo. Essa floresta cinzenta que te fez sorrir comigo, quando ainda não tínhamos a mínima preocupação da existência de algo que rejeitamos. O branco da neve cobre agora o teu espaço e a tua cara pálida escurece um pouco mais pelo devaneio, os teus olhos distantes, o brilho que começa a existir neles. E sei que pensas em mim nessa altura, sei que existes porque algo dentro de ti existe por mim, algo que ainda lhe darei um nome, tal como dei a tudo o resto que era nosso. E a floresta ainda lá reside, nas nossa mentes eternamente ligadas, cinzentas por terem sido destruidas pela nossa diversão, cinzas de memórias e fotografias que odiámos. Algo dentro de ti existe, esse algo sou eu.
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