Há uma casa no final deste longo caminho. Há um sítio para ficar, quatro paredes que conciliam o calor e me abrigam do tirano vento. Vento inesperado na minha existência, neste trilho que caminho diariamente, por entre árvores e folhas caídas, pedras que contam uma história aos que se aventuram aqui. Vento inimigo que continua a cortar a pele e a assustar a alma, vento que, mesmo a soprar lá fora, me afecta cá dentro. Vento que me acompanha até às noites mais solitárias de Verão, em que me deito ao relento e espero pela manhã.
À beira do lago acordo e caminho, água a cobrir-me os pés, minúsculas pedras que se juntam à areia. O Sol de madrugada lentamente a penetrar pelo nevoeiro da manhã, a mesma bruma que me confunde a mente, que me prende aqui. As árvores, altas, agora reflectidas no lago, deixam uma melodia lenta e triste passar e conquistar a minha mente. É tempo de voltar, passar por aquele trilho, descalço, por onde sempre tenho passado e, por mais vezes que lá passe, não me parece banal. Fixa-se na alma, interioriza-se na primeira visita e nunca mais solta, é parte dela agora.
Há aqui uma mente para crescer, uma mentalidade para desenvolver. Há espaço para tudo aqui. Apenas falta alguém que mostre novos trilhos, que também caminhe pela floresta, à beira do lago, que ultrapasse o medo de lá nadar e de se juntar a tudo o que a Natureza tem para oferecer. Entretanto há os cantos obscuros cheios de violência, memórias reprimidas que lutam pela liberdade. Há prateleiras de livros escritos mas nunca publicados para serem limpas, há coragem a ser revelada, há sangue a ser guardado por uma vida mais longa e iluminada. Há aqui um ser para se proteger na casa ao lado do lago.
1 comentário:
Se não parares de ser assim, terrivelmente doce, vou ficar com as bochechas rosadas. Estes texto está fantástico."Há aqui um ser para se proteger na casa ao lado do lago." Um bocadinho de mim ficou preso nessa frase. E agora, a culpa é toda tua :)
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