sábado, 5 de maio de 2007

Insanidade

A minha alma, demente e deteriorada, diz-me que me mexo. Mas eu não me sinto a mexer. Sinto-me morto. Sinto que não tenho mais ninguém com quem falar, que ninguém me pode ajudar, que sou um caso especial, aquele que ajuda e que nunca é ajudado. Mas estou assim tão cego que não vejo o esforço dos meus amigos para serem vistos como tal e que eu não estou só? Não consigo abrir os olhos mais, não consigo manter a cabeça levantada e vê-los, a sua expressão horrorizada, o choque do meu afastamento. Mas a quem posso dizer o que me vai na alma? Ninguém o suportará e, se suportar, não me encarará a sério. Dirá que sou uma pessoa que escapou do hospício. Insanidade, onde me levas?
Chove na minha mente para manter os meus pensamentos frescos, a minha alma presa e o meu espírito em baixo. Faz-me continuar triste e deprimido, como um adolescente normal que julga que todos podem morrer e que não precisa da ajuda de ninguém. Mas eu sei que preciso de ajuda. Preciso de ajuda de alguém que ame da mesma maneira que eu a amei. Alguém que me ajuda a ultrapassar esta fase de uma vez por todas. Não apenas dizer ou escrever tais palavras, mas senti-las também. Porque agora estou sozinho e não me sinto amado, não me sinto desejado. Insanidade, porque me persegues?
Olho-me ao espelho e nada mais vejo do que uma reflexão daquilo que em tempos fui. Não me considero nada de especial em termos materiais, mas penso que sou mais que o mundo de alma. Ainda ninguém me provou o contrário então porque me sinto tão em baixo? Palavras de conforto que saem das vossas bocas mas que nada me afecta, a mim nada importa, por mais que insistam em fazer-me sentir melhor. Os meus olhos continuarão vagos e vazios e vou continuar a afastar-me até que não tenha mais ninguém, mais ninguém para me salvar. Se pudesse continuava mas como posso continuar quando desejo nunca ter nascido? Acho-me um erro. A insanidade tal em disse.
Todos me dizem que são normais, que eu sou normal e como me sinto é normal, mas que prazer tiram disso? Acham que me faz sentir melhor? Eu quero ser mais que normal, porque ser normal não me traz felicidade. Quero ser o primeiro, quero ser chocante, quero ser mais do que todos, quero ser o pioneiro de uma geração mal guiada. Mudar opiniões, conduzir multidões, até aos confins da terra por pura insanidade. Rebaixo-me a todos os erros mas nunca me gratifico por coisas boas feitas. Gostava que se afastassem todos por uns momentos de forma a que possa estar sozinho. Sozinho para pensar, sozinho para me matar, sozinho para falar com a insanidade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não acho que sejam palavras de conforto. Porque o conforto de nada serve, pelo menos para ti. E se vês o esforço dos teus amigos não estás cego, apenas fazes por o estar, consciente ou inconscientemente.
E quanto a poderes dizer o que te vai na alma, acho que a qualquer um. Não esperes que te entendam, como sabes, mas cada um é diferente e sente à sua maneira. Porém, cada um irá aceitar-te, reconhecendo essa diferença.