Estou acordado até tarde, a pensar em algo que já se passou, a inventar situações que existem apenas na minha mente, a tentar prever o meu futuro. Viro e reviro na cama, até estar demasiado quente para ter os lençóis em cima. Pontapeio os lençóis para saírem de cima de mim mas, assim que saem, tenho frio. Não estou bem aqui. Nunca estou bem em lado nenhum. Tenho uma forte tendência para ver o lado negativo das coisas, talvez assim seja para me motivar a não errar outra vez e fazer melhor da próxima vez. Sei que com ela não errei. E agora continuei. Mas continuo a sentir a minha vida a escapar-me pelas minhas veias, a sair pelas pontas dos meus dedos, a cada segundo que passa.
Olho em volta e não vejo ninguém conhecido, ninguém que me importe, ninguém que se importe comigo. O Sol põem-se na minha cabeça e a escuridão domina-me a alma. Como que programado, continuo a caminhar a um destino predefinido, não escolhido por mim nem por uma força maior, apenas um sítio ao qual me habituei a ir, ao qual vive a prisão da minha alma que é o meu corpo. Já não me sinto melancólico, já não me sinto nostálgico, não me lembro mais daquela que me ocupava antes a mente, daqueles momentos passados com ela. Já não tenho saudades da minha infância, apenas do sítio para onde vou mais uma vez.
Sinto que nada mais tenho a dar, mais nada tenho a sentir e que está tudo acabado, tudo destinado, tudo morto. À minha volta, apenas vejo mentira, a mentira nos olhos das pessoas que já não erguem a cabeça devido a erros no passado que cometeram e que agora desejam não ter cometido. Está tudo condenado ao tormento infernal dos próximos mil anos. Aqui ou no Inferno, qual a diferença? Nem mesmo eu retrato a verdade humana, não a tenho, não a quero ter, não é para mim.
Sei que sou mais que isto, sei que tenho mais do que palavras dentro de mim, mais do que pensamentos. Sei que tenho uma alma, algo que me faz viver mais um dia. Mas a realidade está distorcida e é porque eu sinto que isto é verdade que eu escrevo. Negro é o meu coração, se ainda o tenho, pois já não sinto mais nada que não a vontade de desaparecer. Não penso em mais ninguém, não quero que mais ninguém pense em mim, não tenho consciência e são poucas as coisas de que me arrependo ter feito. Mas pelo menos consigo olhar as pessoas nos olhos, talvez até na esperança de arranjar confusão, uma forma de libertar esta raiva contida dentro de mim. Consigo enfrentar as adversidades do dia mas tudo acaba quando chega a noite, tudo acaba para mim quando sei que não tenho mais ninguém que me ama da forma como eu a amei. Talvez seja esse o meu problemas mas, até o resolver, ficarei por aqui, com olhos vagos e vazios. Num dia, tudo acaba para mim.
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