As nunvens lá fora estão vermelhas, preenchidas com as gotas que criámos, tu e eu, numa noite em que apenas a brisa de Verão existia no ar e os campos foram pintados à mão de um artista bêbado e cego. Não me permitas errar enquanto paira no ar o doce cheiro de jasmim, hipnotizando-nos para uma outra dança exaustiva. Não me permitas voar com os morcegos para aquela gruta isolada, na escuridão sonora, onde fecho os olhos e hiberno até o novo Inverno chegar. Entra então a chuva para o nosso contentamento de crianças no corpo de adolescentes.
Voltei àquele sítio onde te conheci, onde te vi pela primeira vez e trocámos palavras doces de desconhecidos até mais que amigos. Nunca te cheguei a tocar na pele nem nunca cheguei a imaginá-lo, apenas com medo que podesse nunca acontecer. De nada valeu porque não chegou a acontecer de qualquer forma. Lamento as luzes da cidade lá fora, tiram o brilho da noite todo, desviam a atenção para qualquer gato vadio perdido à procura de alimento. Então volto-me para onde estava e penso noutra coisa qualquer que não lembre da maldição que és.
Hoje descobri algo em mim que desconhecia até agora. Descobri que, qualquer que seja a situação, nunca eu vou ficar com alguém nos braços, numa noite, aconchegados em cima da cama, repousando, ouvindo a respiração um do outro. Penso que nunca vou ver alguém dormir, pelo menos não a vou fazer chorar. Sei que não farei drama porque me habituei há uns tempos a ficar sozinho. Continuo a vomitar palavras como que um pecador no purgatório, antes de saber que vai arder no Inferno, agarrado ao seu coração como que se fosse o seu tesouro e seu único amigo. E detesto a sensação de que te posso ter pois sei que isso não vai acontecer. Não me ouso a meter no meio...
1 comentário:
"Hoje descobri algo em mim que desconhecia até agora. Descobri que, qualquer que seja a situação, nunca eu vou ficar com alguém nos braços, numa noite, aconchegados em cima da cama, repousando, ouvindo a respiração um do outro."
Que argumentos dás para isso?
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