terça-feira, 3 de junho de 2008

A rapariga com o sorriso belo

No espelho, vejo-te a olhar para o horizonte, distante e profunda marca que revela nos teus olhos a dor que trespassa e absorve energias positivas, transformando-as, apagando-as. Mas o teu sorriso não é abalado, mantém-se fiel à tua bela figura, a mesma que me viu uma vez e que não mais me vai ver. O julgamento que arde em ti, esse ardor que sentes na face, não devido ao calor que se faz sentir no exterior, mas sim ao sentimento de culpa que te percorre por tantos teres enfeitiçado, por tantos ter cegado até à condenação das suas e da tua alma. E tantas foram as letras dos tolos que se pronunciaram em papel corrupto por ti que agora todas as palavras perderam o significado. O gesto de um brilho no olhar é o que ocorre quando as estrelas brilham nos fundos do céu, para ti, uma vez mais.
A sede percorre o caminho de dor que se estende pelo passeio que percorres. Escondes a face ao Sol, dedicando-te apenas à Lua, aceitando apenas a sua luz em ti, revelando apenas o sorriso que detens prisioneiro na tua face e que homens e mulheres lutam e falecem por. Apenas histórias épicas de dragões e fadas são escritas em nome dos teus lábios mas nenhum conquista o teu coração escondido atrás de todos os anos de tormento que carregas como fardo às costas. O respeito é o que se escreve nas paredes da tua mansão cinzenta, amor é o que domina a alma dos Homens para ti, e tudo o que possa descrito é morto por um simples sopro do vento. Um simples sopro e tu não és mais.
Lágrimas correm-te os olhos e as nuvens acompanham-te nesta cerimónia fúnebre pela memória do fracasso de amar. És tudo o que tens, tens tudo o que precisas, mas nas noites mais escuras, quando as brumas se aproximam para te abraçar eterna e ternamente, quem te vai proteger das sombras que te tentam, quem te vai impedir de te matares por um pedaço da mortalidade que os Homens tanto temem? Quando cresceres, verás, quando chorares, crescerás, quando me abraçares, morrerás, e contigo irei também, pois outrora vi a tua face sorridente para mim, outrora deixei-me cair no teu feitiço quando eu próprio te enfeiticei também. E crescerás comigo, chorarás por mim, enquanto eu morro interiormente por ti.

2 comentários:

My little Moon disse...

Até me arrepiu...

(obvio que votei no escreveres mais em português :p)

Esmeralda disse...

Muito bom, muito bom mesmo. Realismos e imaginação...