quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Palavras

Certamente o vento levou consigo as minhas palavras. Procuro-as. Não sei a sua forma exacta mas procuro nas folhas caídas algum rasto delas. Algum sentimento, algum significado. Escondem-se por ruas do desconhecido, ruas que caminhei antes e continuo a caminhar agora. Dança-se por aqui à melodia do vento enquanto eu, mundo, vejo apenas a calçada suja de uma festa permanente, atravessando a noite e prolongando-se pelo dia. E sem sinal das minhas palavras, escondo-me nas sombras do silêncio, onde o vento não passa, onde ninguém me vê quieto, não quero dançar.
Acredito na inocência e beleza deste planeta. Em todas árvores carregadas de frutos e vestidas de folhas verdes, de flores que crescem ímpares de dor e seca, de lagos que reflectem a beleza oferecida. Acredito nas intenções subliminares e subtis da Deusa, acredito nos meus passos lentamente dados e nem sempre pensados, acredito na minha sorte que caminha a meu lado todo o tempo e faz com que o acaso pareça propósito. Acredito no que está para ver mas desconfio sempre das minhas palavras, da sua intenção, do seu sentimento, se alguma vez existir. Como uma folha velha e morta, as minhas palavras estão desgastadas, fartas de serem repetidas. Quero algo novo para acreditar mas nestas ruas tudo o que existe é permanente. Nada é novo aqui.
Coragem jovem de alma envelhecida, coragem. Resoluto coração transmite força à mente para continuar a caminhar por cidades de betão e cimento, ruas antigas, paredes que contam histórias que apenas alguns se dispõem a ouvir mas que se perdem neles. Abre os ouvidos e recolhe o canto sereno do vento, ele indicar-te-à onde as tuas palavras se recolheram, encontraram abrigo, refugiadas da tua dor. E segue o velho trilho, merecedor de consideração e memórias, no final um sorriso. Em silêncio e calmamente continua a caminhar, as palavras merecem a perseverança.

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