segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Adormecer

Cada vez que adormeço morro. Páro o tempo da minha existência, os pensamentos que outrora correram fluídos são agora meros esquecimentos com que brinco ocasionalmente. Cessa de existir a fácil fluência da minha racionalidade, os meus instintos mais primitivos tomam conta. E fecho os olhos. Luzes apagadas, tudo no silêncio da noite. E a demagogia que governa esta prisão de cansaço é cansativa por si só. Acordar é já um sistema pré-designado no interior do meu cérebro que se revela incapaz de se iniciar por si só de bom grado. E a noite é a conquistadora dos meus sonhos e desesperos, é quando me sinto mais em casa, sob um céu estrelado ou uma chuva que ameaça criar um rio e levar tudo daqui. Incitar em mim uma linha de raciocínio é o mais agradável que consigo tirar da noite, dormir é a ameaça apagar o prazer de estar vivo e pensar.

1 comentário:

Elisabete S. disse...

Que a noite materna não represente apenas o desconforto da invasão dos teus desesperos e sonhos, ou o porto do teu raciocínio. Afinal, de noite, tens sempre o rio de todas as coisas belas a correr no tecto do mundo. :)