Continuo a andar nesta estrada negra. Os pesadelos estão agora de mãos dadas comigo. Eles dizem que me guiam, eles dizem que são o começo de algo nunca antes sentido. Eles mentem e eles enganam mas mesmo assim eu sigo-os. Sigo-os porque quero acabar com isto a que chamo vida. Sigo-os porque já sofri a minha parte, nunca ajudando os que à minha volta sofriam, e olhando para o lado, vendo a dor nos seus olhos, segui em frente, sempre concentrado em mim próprio. Vejo os terrores a voarem à minha frente, sem parar excepto quando olham para mim. Riem-se de mim, gozam comigo, por tudo o que sou e por aquilo que não consegui ser. Mas continuo.
Sinto qualquer coisa nas minhas costas, uma dor inexplicável. Sinto que me estão a nascer asas. Olho para dentro de mim e vejo que são negras. Asas negras que me tomam por garantido a cair naquele buraco no chão, um buraco que espero que não tenha fundo, um buraco que sentirá a minha dor e que me confortará. Tenho agora os olhos negros de raiva. Mas continuo a ver, a ver a neblina e os terrores à minha frente. Enfrento o meu destino sem medo, continuo a caminhar firme, de mãos dadas com os pesadelos da minha mente. Contudo a minha força parece finalmente ceder, aquela vontade de ficar vivo para não dar dor a alguém que se importe, quem quer que seja, aquela vontade de sentir algo mais desta vida para além da dor inexplicável que sinto por dentro e que nunca a ninguém falei. Essa dor consume-me por dentro, juntamente com a escuridão e a raiva. Ainda tento libertá-la mas não vejo nenhuma luz no horizonte que me diga para continuar, por isso, cada vez mais, desisto.
O chão é instável e parece tremer a cada passo que dou. Mas não consigo parar. Os pesadelos puxam-me, os terrores riem-se e o buraco no chão espera-me. Um sítio para descansar, um sítio para pensar, um sítio para morrer.
Caminha no escuro,
com pesadelos e terrores,
no escuro continuo-o,
até que o buraco no chão encontres.
com pesadelos e terrores,
no escuro continuo-o,
até que o buraco no chão encontres.
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