Observa as crianças a brincarem na rua inocentemente, não cientes da guerra que se dá mesmo ao lado deles, das almas perdidas que os vigiam, que planeiam a sua morte com vinganças, nada mais do que peças num jogo de xadrez, controlados por mim e por ti. Repara no sorriso das crianças nas suas faces, dos olhares de felicidade, de todo o bom à sua volta, aquela barreira frágil que os envolta, a mesma que será morta pelo tempo, a que está neste momento a suportar o terror da realidade e da morte.
Vê os tanques em movimento, esmagando tudo na sua frente, sem piedade, sem consciência, frio, sem alma, avançando em direcção às crianças, lentamente, tão lentamente quanto o vento sopra nas tardes de verão. Fé morrendo lentamente, deixando os corpos para desvanecer no ar, cobrindo tudo. E tudo devido à tua miséria, pintada por ti, preenchida de cinzento até nunca mais parecer o que outrora foi. E os tanques mantêm o seu caminho, frios como sempre, pintados de branco para ilusão do ser desprevenido, mais uma vitima do teu encanto lunar. As flores desaparecem no chão pisado pelo tanque.
Escondo-me no canto, tapando-me com a escuridão, a minha amiga, o meu sinal de insanidade, tentando não ver o ódio e a sede de vingança nos teus olhos. Esse olhos que outrora foram inocentes e preenchidos de felicidade. Mas tudo morreu, o teu mundo colapsou, tudo que amavas e tudo o que acreditavas nunca mais voltou, nunca mais verás ou sentirás os sentimentos essenciais ao calor humano. Não estás sozinha nesta solidão de alma, no negativismo que se formou dentro de ti pelos pecados do tempo. E foste tu que me salvaste de permanente condenação, simplesmente ao existires.
1 comentário:
Hum quem será o "verniz preto"... eis a questão....
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