As ruas em que caminham transformam-se todas numa, uma fusão automática mas nunca vista, apenas sentida. A rotina traz o tédio, a monotonia de caminhar sempre a mesma rua sem qualquer objectivo, apenas tempo que passa, minutos que passam e que me aproximam da morte, tempo esse, perdido por todas as interacções, desperdiçado pela sociedade sem nenhuma finalidade. Mas ainda me movo, ainda caminho até a lado nenhum, para fazer nada, apenas me sentar no meio da escuridão e viciar-me no que sou, este ser fechado que me tornei com o tempo. Tempo que continua a ser abstracto e relativo.
Todas as cores se preenchem de futilidade, não parecem verdadeiras, todas mutantes, todas mudam quando a noite chega, trazendo a tão aguardada escuridão que complementa a minha solidão. E sinto-me nostálgico, relembrando tempos perdidos, palavras ditas para serem esquecidas mas que nunca realmente abandonaram a minha mente. Parece tudo tão em vão, sem finalidade, todas as acções, todas as ruas, todas as cores. Mas ainda aqui caminho, ainda aqui passo e observo o quão fora de contexto estão as pessoas que caminham na rua, sempre contra mim, pensando que a vida tem um objectivo, nunca se apercebendo que esse objectivo é morrer no esquecimento.
Nada. Nenhum monumento, nenhuma pessoa, nenhuma mente, nem sequer nenhuma alma, o mais essencial do ser, será relembrado e homenageado ou odiado para o resto dos tempos. A humanidade existe para destruir enquanto que se destrói a si própria. E ninguém responde, ninguém pensa, ninguém quer saber das perguntas essenciais, da alma, das coisas que devem ser preservadas. Tudo cai no esquecimento e nenhuma acção o evitará. E mesmo eu serei nada mais do que zero, apenas mais uma peça do puzzle que não encaixa em sítio nenhum, que não se agarra a outra peça e se mantém colada para sempre. Não deixo, mesmo assim, de me importar com ela, de me agarrar com toda a força à sua alma. E seremos duas peças de puzzle desencaixadas mas sempre coladas.
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