A isolação já começa a controlar a mente, bloqueando as imagens de ti. As lágrimas parecem secas e sem sentindo e o teu ódio e sede de vingança apenas diminui, substituido pela vontade de morrer, desaparecer e deixar maldição para sempre. Mas encontro em ti aquilo que queria, a única réstia de esperança e vontade de continuar a caminhar, o teu calor e amor humano que preservaste num canto da tua alma escondido e muito escuro. Então um sorriso aparece e ilumina aquilo que resta de mim. Então sento-me e espero.
De noite, os corvos cantam para ti. Dizem-te para onde caminhares, onde me encontrares, onde reviveres. Os anjos mantêm-se perto de mim, sempre perto de mim, com aquela expressão de dor e com pena nos olhos melancólicos, quase a chorar. Tentam aproximar-se mas sinto o medo deles, o receio de que o pior de mim possa vir ao de cima e que volte a ser o sanguinário que antes fui, o assassino de reis e rainhas apenas pelo prazer, apenas pela tortura. Até te encontrar, uma princesa, perdida no seu jardim, procurando uma rosa para por no cabelo.
Perdida na altura, concentrada na tua procura e não na tua localização, nunca olhaste para cima, nunca me viste a contemplar a tua beleza ao luar, escaldante e vermelha aos meus olhos. Estavas, então, coberta por um vestido branco de cetim, algo puro e pacífico, talvez uma das muitas coisas que acalmou o meu instinto e me deixou aproximar-me de ti, abrir-me para conheceres o monstro que reside no interior. O teu cabelo, preto como a noite que faz cerco a todas as estrelas, soltava um reflexo da luz da Lua que me cegou por momentos. E os teus olhos, verdes, perseguindo todos os ramos, todos os arbustos, a natureza em si, tentando encontrar a tal rosa.
Movimentava-me nas sombras e mesmo assim não reparavas nos rastos e pequenos barulhos que fazia. Olhei para ti e contemplei mais uma vez a tua beleza, inspirando-me a colher a rosa branca que tinha aos meus pés. Uma rosa, pura tal como tu, branca como o teu vestido, escolhida especialmente para ti, para tua felicidade. Então deitei um pouco mais de mim quando me piquei lá e deixei o sangue escorrer para as pétalas brancas. Esperei então por ti, estendendo o braço com a rosa branca para te oferecer, com um sorriso que não conseguia evitar ter na face, por mais que o tentasse esconder. Os olhos encontraram-se e o tempo parou, tudo congelou à nossa volta e a rosa foi a única coisa que se movimentou, de mão para mão. E na tua mão ficou quando correste de volta para o teu palácio, corada e desprotegida. Desde então te amei.
E agora olho para as lágrimas no chão que mostram o meu reflexo. Percebo que estarás ao meu lado, para sempre. É essa a tua verdadeira maldição.
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