terça-feira, 24 de maio de 2011

Aos ventos

Que traz o vento na sua correria? Devastação, claramente. Desespero, subtilmente. O reflexo do vazio que nos percorre interiormente, talvez. É incerto, não se consegue dizer com segurança. Cada um sente algo diferente e o vento percorre com um fúria dentro de nós que tanto nos pode conquistar como afastar. Para mim é algo que me empurra para trás, uma força invisível que me afaga o cabelo ou que me refresca quando o Sol parece desejar pegar-me fogo. Traz-me frio aos ossos e enregela-me a pele, ajuda as folhas a cortá-la. É um amigo no Verão e um inimigo no Inverno. Nos intermédios é uma conhecido que lembro com saudades ou que me preparo para afastar.
Porque corre o vento? Quem sabe? Tenciona estar nalgum lado, tenciona controlar quem passa por onde, ajudar o destino a concretizar-se, abraçar alguém, quem quer saber? Lá fora ele sopra, forte ou fraco, não interessa. Serena-me a noite, permite-me entrar no sono. E aí, apenas aí, agradeço-lhe. A sua presença refrescante nas quentes noites de Verão em que os lençóis existem apenas para queimar a pele, quando andar sobre o luar ainda nos faz querer tirar a roupa, deitar na areia, dar um mergulho na água, é essencial, benéfica, bem-vinda. E altera a nossa mente, permite relaxar, tranquiliza a alma. Paramos para olhar para o horizonte, porque podemos, porque estar parado já não é tão exaustivo. É um abraço amigável e fresco numa noite tão abrasadora.
Deixando Boreas abandonar o seu posto como líder do céu, dando o seu lugar a Zérfiro. Deixando o Verão aproximar-se, a alvorada chama por aquele que aclama os Ventos muito depois de a humanidade ter perdido fé nestes e estes terem deixado os humanos à mercê da sua indiferença.

Sem comentários: