domingo, 8 de maio de 2011

O velho caminho - tarde

Ah, finalmente, a doce brisa de Verão que já demorava a vir. Saio da sala, parece que passei lá mais tempo do que na minha cama durante a noite. Bom, a diferença não é muita. Só por dizer que passei mais umas horas a rebolar de um lado para o outro. Só dormi mais uns minutos do que o tempo daquela aula. Duas horas daquilo é tortura, especialmente com aquela professora. Podemos simplesmente estar a olhar para uma mosca poisada na mesa que ela interpreta isso como um insulto à sua pessoa e à sua aula. Não importa. Caminho de volta ao metro, regressando a casa. Chego um pouco depois do último autocarro ter saído e vi-me obrigado a esperar mais vinte minutos. Com música nos ouvidos até nem me importo. Até o Sol a bater-me nas costas me sabe bem.
As aulas demoram tanto a passar. Mas eventualmente acabam. Finalmente, hora de ir para casa. Apenas quatro horas depois de cá estar e já estou cansada deste sítio e destas pessoas. Há um limite até onde a minha paciência permite estas infantilidades. Já todas temos mais que idade para pensar em mais superficialidades do que rapazes do cinema e dos que andam atrás de nós. Deixo-as para trás e dirijo-me para a paragem, esperar o autocarro. O Sol está quente mas não desagradável. Talvez vá dar uma volta ao mato esta tarde, ver os resultados da Primavera, aproveitar este Sol antes que a chuva volte. Abro o meu livro enquanto espero mas o autocarro não demora. Uma tarde agradável de abertura ao fim de semana é o que me espera.
Já quase a meio do caminho para a casa olho para a frente. Cabelo loiro longo, olhos azuis claros, pele pálida, assim se apresenta ela e faz de mim um poeta com o desespero de um coração que não cabe no corpo. Ela olha para o lado repentinamente, já tinha reparado em mim antes. Volto a olhar lá para fora, nem uma palavra me ocorre para ir lá falar. Deixo estes pensamentos para o lado, tenho perfeita consciência de que sou demasiado velho para ela e ela é demasiado gira para mim. Para além de que a minha vida é uma ilha onde só se vê oceano. Está a chegar a minha saída, levanto-me, ainda olho uma última vez e ela tem uma cara furiosa. Deve ter um feitio simpático. Desço as escadas e começo a caminhar em direcção à minha casa, olho para o autocarro para a ver uma última vez mas ela não está já lá. Fico confuso mas continuo o meu caminho. Sinto um toque nas costas:
- Porque não me falas? - pergunta-me ela com a mesma cara furiosa que vi quando estava a caminhar para a saída do autocarro.
- Não sei o que te dizer.
- Podias começar por te apresentar.
Concordo mas antes de ripostar ela já começou a andar.
- Vamos para a mata. - diz-me ela sem olhar para mim, continuando a olhar e deixando-me com mil perguntas. Mas mantenho-me em silêncio.
Passamos a tarde a falar, ele diz-me pouco de si mas uma vida cheia de violência e dificuldades transparecem nos seus olhos. O Sol passa de um lado ao outro no céu, a temperatura é sempre agradável debaixo destas árvores e neste espaço, as horas passaram como segundos, isto confirma a teoria dele de que o tempo não é justo, não espera por nós. Tempo de voltar a casa, a noite está a chegar. A tarde da minha vida a chegar ao final.
Levo-a até à porta da sua casa e combinamos encontrarmos-nos à noite, dar uma nova volta. Olho para a profundeza dos seus olhos sob a luz do pôr do sol e beijo-a. Volto a casa e acaba a tarde da minha vida.

2 comentários:

Maria disse...

Ainda bem! Demoro sempre muito tempo a escolher qual colocar, sabes? São todas do tumblr, posso-te deixar o meu: aboveeitall.tumblr.com I hope you like it (:

sónia fernandes disse...

não consigo evitar...hihihihihi nos teus textos a mulheres, também, dominam hihihi
Foi a rapariga quem falou primeiro hihihihi