A verdade é complicada. É um espelho distorcido da mentira. Ou talvez até seja o contrário. Mas é essencial, para a maioria. O problema é que a maioria não sabe distinguir a verdade do mundo da verdade pessoal, do seu desejo. E por isso caminham ignorantes, esperançados ou negativos. E não sabem se estão talhados para receber a verdade, não há propriamente um teste que possam fazer para saber se estão aptos. Resta-lhes apenas a vida. E a vida é um teste, não só de inteligência ou de força, é também de resistência. É saber sobreviver os dias mais duros e solitários e prevalecer, levantar da cama no dia seguinte. Levantar no dia seguinte é ainda mais fácil do que sobreviver ao dia. A menos que seja um dia igual ao interior. A vida é muitas coisas mas não é injusta. Nós somos injustos, não sabemos encontrar equilíbrio na vida.
O dia começa pesado se passamos todas horas a empurrar as pessoas para fora da nossa vida. Construímos muros à nossa volta que nos fazem reservar os nossos pensamentos para nós próprios, trancamos-nos dentro de um quarto sem janelas nem portas, afastado de toda a realidade, onde podemos gritar à vontade sem que ninguém nos oiça. O Sol pode brilhar lá fora mas não se vê nada cá dentro, apenas sombras que se mexem, dançam, riem, gozam. Freneticamente, à nossa volta, usam-nos, abusam, cansam-nos até ao ponto em que já não nos conseguimos levantar, as sombras habitam-nos a mente, preenchem os pensamentos e os pesadelos, imagens repetidas que nos deixam à beira do desespero. E as horas passam, não nos levantamos, não queremos enfrentar o mundo lá fora. Apercebemos-nos do vazio que é, que somos, que nos define. E definhamos na cama, com o tempo.
Toda a gente trai, de uma forma ou de outra. Toda a gente mente, depende da definição da verdade. A ironia disto tudo é que a morte leva consigo todos os erros e ofensas e limpa o cadastro da vida da pessoa, tornando-a numa pessoa perfeita que antes toda a gente detestava mas que depois toda a gente iria ter saudades. Mais mentiras para preencher o vazio no interior. No dia seguinte levantar-se-aõ da cama como se nada se tivesse passado, nada tivessem dito. Um niilismo existente no nosso código genético que nos leva a ser tão merecedores da minha falta de confiança de raiva. Hipócrita? Sim, completamente. Mas completamente confiante de que exponho a minha realidade quando requisitada, ainda que magoe alguém, ainda que afaste mais uma pessoa, sendo as consequências passar um dia sozinho e senti-lo como se uma eternidade fosse.
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