terça-feira, 31 de maio de 2011

O príncipe cruel

Do seu alto trono ele observava, silencioso, esperando notícias do que quer que fosse. Coroa na cabeça e ceptro na mão, sentado, eternamente, ele esperou. Da sua história eu partilho um bocado, o que vi, o que senti, o que ouvi. Com calma chegaremos ao entendimento da minha devoção, começando por o odiar, depois por o entender, sem que dêem conta já o terão na mente de bom grado e finalmente darão a vossa palavra de lealdade para com este rei que há muito se rendeu na sua última e derradeira batalha, a sua vida.
Começando a fábula, há muitos Invernos atrás, não vale a pena conta-los, só nos atrasaria na história, existiu um reino governado por tiranos. Geração atrás de geração, tirano atrás de tirano, eles vivam para o seu prazer, roubavam ao seu povo, violavam, provocavam guerras e alimentavam-se do sangue que faziam derramar em seu nome. Este rei foi mais um dessa linhagem. E sem dúvida deixou os seus ancestrais orgulhosos. Continuou a sua tradição. Talvez nem a tenha continuado mas sim dado-lhe uma nova definição, mais violenta, mais sangrenta, menos nobre.
Aos seus tenros dez anos, sendo educado nas várias artes da espada ao mesmo tempo que aprendia novas estratégias de guerra, este jovem príncipe foi chamado pelo seu pai que lhe propôs um desafio, um teste às suas virtudes e ao seu direito ao trono. Teria de matar o seu melhor amigo. Ele fê-lo, de bom grado. Nem um momento de hesitação. Colocados frente a frente na arena, apenas o seu pai como público. O seu amigo tremia, chorava, berrava que não o queria matar, que queria muitos mais anos ao seu lado, a servi-lo fielmente através dos tempos com a sua espada e escudo. Ele, jovem e sádico, com um sorriso rasgado na face, olhos psicopatas que seguiam todos os movimentos do seu amigo. Avançou e apenas um assobio do vento avisou o movimento da espada mesmo antes desta entrar pelo peito do amigo antes de sair e cortar a garganta ao jovem enquanto que este abriu os olhos o máximo que conseguia numa expressão de incredulidade.
Meses e anos passaram e ele sempre viveu feliz com a sua decisão naquele dia. A partir daí até os seus servos tinham medo de serem mortos de um momento para o outro, servos que sempre o amaram e lhe deram o carinho que ele não recebia do seu pai. Depois disso, nunca mais.
Aos quinze marchava para a sua primeira batalha. Mestre do seu contingente, ordenou-os e destruiu os seus inimigos. Com tácticas superiores que ele próprio desenhou por noites em claro derrotou os seus adversários numa questão de minutos, o seu pai a ver ao longe sentindo um misto de orgulho, surpresa e medo. Os que sobreviveram e se renderam viveram tempo suficiente para se arrependerem da sua decisão. Ele prendeu-os e torturou-os pessoalmente, por gozo próprio, retirando apenas informação de onde viviam. Assim que eles suplicassem que parasse e lhe jurassem lealdade ele abria-os e tirava-lhes o coração com as mãos enquanto eles gritavam de agonia. Um último suspiro de alegria por o terror ter acabado e fechavam os olhos. Durante as noites ele levava um grupo de soldados e destruía as aldeias dos mortos, deixava os soldados saquear tudo o que quisessem enquanto ele violava as mulheres dos seus falecidos prisioneiros. Depois cortava-lhes as gargantas enquanto elas choravam encolhidas em cima da cama.

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