terça-feira, 17 de maio de 2011

O velho caminho - final

Os meses seguintes correram. Literalmente correram. Uma tarde parecia resumida a um minuto, cheio de magia, encanto e amor. Andámos, falámos, corremos. Fizemos de tudo um pouco daquilo que se espera de um casal. Aproveitámos o final da Primavera e o Verão ao máximo, tal como prometemos naquela noite. As melhores férias que tive até hoje. Jantámos juntos, conhecemos os amigos um do outro, permanecemos os mesmos e mudamos-nos um ao outro. Enfim, amámos. Mas rapidamente a felicidade se torna tristeza e o dia em que estava destinada a ir para França chegou. Então fiz a mala, chorei muito mais, ele beijou-me muito mais, o tempo finalmente pareceu parar de ter pressa e deixou-nos apreciar o momento. Deitámos-nos em cima da minha cama, malas no chão, nas últimas horas antes da altura de ir embora para o aeroporto. Antes de sair, tempo para uma última promessa:
- Durante o caminho e até nos separarmos, nada de lágrimas. Combinado? - ele sorriu, deu-me uma festa na cabeça, um beijo na testa e outro nos lábios e simplesmente respondeu... - Sim.
Levantámos-nos da cama onde estávamos enrolados, peguei nas malas dela e saímos pela porta, descemos pelas escadas para durar mais, entrámos no carro e pusemos-nos a caminho do aeroporto. O caminho todo a olhar um para o outro, nem via o meu reflexo nos seus olhos, apenas a sua profundeza azul. Ambos sorriamos, até aqui a promessa não foi difícil de cumprir. Mas assim que vimos o aeroporto tudo se tornou mais difícil, o coração pesava, batia mais depressa, havia uma dor no peito que não conseguia explicar. Sem conseguirmos explicar como, o carro estava estacionado, eu estava a tirar as malas da parte de trás do carro, o silêncio era ainda mais duro, a dor era maior que a alegria. A realidade finalmente caiu sobre nós.
O caminho do carro para o aeroporto parecia uma eternidade. Por um lado estava feliz com isso, parecia que estava mais tempo com ele. Por outro lado sabia que isso não era verdade e que o tempo era limitado, muito limitado. E isso deixou-me muito infeliz. E quanto mais longo parecia o caminho, mais miserável eu me sentia. Felizmente ele estava lá para afastar todas as minhas mágoas. Deu-me a mão, olhou para mim e forçou um sorriso, ainda que visse que era triste, sabia que ele estava feliz simplesmente a estar ali comigo, por mais limitado que o meu tempo fosse. Fez-me esquecer todo o pesar que residia actualmente na minha mente. É esta a sua magia, tem uma maneira de me tranquilizar. Mas chegámos, infelizmente.
Entrámos por aquela porta gigante que roda. Rimos um bocado quando quase tropecei por andar depressa demais. Mas entrámos. Ficámos ali parados por momentos, a observar as inúmeras pessoas, cheias de pressa, sem sentirem nada do que nós sentíamos naquele momento. Os pais dela foram gentis o suficiente para nos deixar ficar ali um bocado, deveriam conseguir ver nas nossas caras a mágoa da despedida. Finalmente ganhei força e coragem para caminhar em frente, peguei-lhe na mão e lá seguimos. Ela despediu-se dos pais, deu-lhes garantia de que iria contacta-los assim que lá chegasse. Olhou para e não resistiu mais, desmanchou-se num choro frenético, agarrou-se a mim e quis-me prometer que nunca mais me ia largar mas parou a meio, só iria doer mais. Beijámos-nos e abraçámos-nos durante um tempo até ela me voltar a virar as costas e passar por aquela porta até que a deixei de ver. Deixou em mim as lágrimas que não me deixou ver.
Entrei no avião, sentei-me, chorei com vergonha. O capitão falou, as hospedeiras fizeram a sua habitual coreografia, avisaram-nos de que íamos levantar voo e para apertarmos os cintos. Finalmente levantámos voo e eu fechei os olhos, não tive sequer coragem para dizer adeus...
Voltei para trás, olhos vidrados, a minha última recordação são as suas costas a desaparecerem. Voltei para casa em silêncio no carro dos pais dela. Nem mais um lágrima deixei cair. Depois só me lembro de chegar a casa, deitar-me na cama e acordar às cinco do dia seguinte, sozinho na minha cama. Agora é outra vez Setembro e viajo pelo mesmo caminho, olho para a mesma estrada, no mesmo autocarro. A única diferença agora é que quando olho para o outro lado já não a vejo, com a sua cara séria, a olhar para as árvores e arbustos que passam, no seu próprio mundo. Mas sorrio porque a minha última recordação dela não é a única e apesar de ela não estar aqui agora sei que estará em breve. E eu quero ficar aqui à sua espera. Até lá leio a carta que ela me deixou quando nos abraçámos no aeroporto, a dizer que me amava, que voltava no Verão e no Natal e que isto não era um adeus, era um até logo...

1 comentário:

sónia fernandes disse...

TAmbém gostei!!! mas é triste