sábado, 6 de outubro de 2007

Entre o amor e a solidão

Porque me esqueci eu daquilo que defini para a mim próprio como futuro e caí no erro de me deixar cair nas mãos de alguém que não a própria pessoa essencial à minha existência, eu próprio? Porque me obrigaste tu a mudar completamente aquilo que se passa na minha mente para a tua imagem, a tua adoração, o teu próprio ser constituido e definido dentro de mim, a espalhar-se e a romper todas as margens e limites da vastidão da minha alma? A cada erro que faço tento mudar, tento criar consciência e aumentar a minha capacidade de raciocinar e de me controlar, de ter mais maturidade para conseguir o meu real potencial como humano mas tudo vai dar ao mesmo, continuo a cair no mesmo erro, naquele precipício profundo e escuro que me leva a questionar as razões da minha existência, naquele desespero e depressão que me obriga a levantar as mãos e tapar os olhos e que ainda me faz detestar mais a minha mente, o meu ser, a minha alma.
Falo e confesso, digo blasfémias que fazem os outros rir e chorar, coisas que apenas cortam mais fundo a minha alma que jorra agora rios de sangue sagrado, sangue que já foi corrompido e sujo, que volta para se sujar outra vez. Digo e re-digo aquelas coisas que aleijam, aquelas coisas que me fazem perder amigos, coisas essenciais para a existência humana. Porque, como disse hoje, não sou nada mais do que um animal racional, uma besta andante que mente a si próprio todas as noites de forma a não chorar, que pede desculpa por todos os seus erros e pecados, redimidos na terra mas cortes mais profundos na alma. Alma essa, condenada a ser perfurada, queimada, torturada nos rios de lava e fogo nos Infernos criados pela própria. Mas nada chega para mim, nada consegue satisfazer aquela vontade idiota de auto-congratulação, aquele ego infernal que parece nunca parar de encher, um balão que nunca rebenta. Mas no fim, sou eu o deixado para trás a fazer textos dramáticos acerca do quão dramática é a minha vida e não a dos outros.
Esconde a minha face na sombra da duvida, não mostres a imperfeição do ser que habita todos os cantos obscuros das cidades, corrompendo os becos sujos e empestados de pestes e animais irracionais mal cheirosos. Esse ser é a peste da humanidade. Essa peste acaba por ser eu, a tal besta. Encobre-me enquanto eu fujo para um abrigo ao Sol e à luminosidade da rua, os olhos que passam sobre mim, a julgarem-me à medida que passo por elas na rua. E à noite estou sozinho nesta cama de cartão a pensar no quão errática é a minha vida, o quão pouco significa a minha vida para os outros lá fora. E no fim apercebo-me de que apenas preciso de mim. Até que encontro outra pessoa com quem esse pensamento dissipa para voltar mais tarde concretizando um circulo vicioso de luta. Entre o amor e a solidão, na escuridão nada mais importa do que eu próprio.

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