Presa dentro dessa prisão de gelo não vês as chamas que ardem no meu olhar. Não te quero dizer que gosto de ti neste momento, apesar das nossas almas coincidirem e da nossa personalidade ser mais do que o reflexo um do outro. E seduzes-me apenas com palavras escritas nos teus olhos tristes que não te permitem ver mais do que uma barreira gelada que te mantém aprisionada em ti própria. Quero ser eu aquele a dizer que te quero salvar de ti própria, que quero partir essa fortaleza de gelo e trazer-te o calor do exterior, o calor das chamas que ardem nos meus olhos. Porque elas ardem por ti. E talvez seja mais medo do que dificuldade em expressar o que sinto neste momento, medo de que te afastes e percas toda a ideia que tens de mim na tua cabeça. Porque tentei com que não tivesses ilusões daquilo que eu sou. Sempre fui verdadeiro e honesto, não minto para te impressionar, porque apenas recentemente te vi mesmo. Mas sinto-me sobrecarregado de futilidade porque pouco tempo passou desde que sei o teu nome e, apesar de nos vermos todos os dias, penso que não é suficiente para ter algo realmente forte. Mas a minha alma diz-me algo diferente. Diz-me o que nós dizemos todos os dias, que somos iguais. Mas não consigo apanhar o teu lado mais sentimental, aquele que disseste que tinhas quando estavas apaixonada. É mais um factor para o medo. Mais um medo. O medo de que leias isto. Tenho quase a certeza de que vais, ou hoje por meu intermédio e superficialidade, ou amanhã quando acordares e tiveres mal disposta. Esse medo é maior que os outros dois separados porque esse medo é combina tudo, combina-os e torna-os num.
Luto comigo próprio para não imaginar o sabor dos teus lábios, como seria agarrar-te e poder dizer que te adoro e tu me responderes igual. Porque sei que, se o imaginar, não acontecerá. Sempre foi assim, porque haveria de mudar contigo? E não sei se já te deixei marca, como tu dizes que tenho de deixar para te lembrares, por isso luto ainda com mais força. E digo e repito a mim mesmo que nem tu nem eu estamos interessados, que tu me vês como um puto com mania que é mais velho e que te mente constantemente, de forma a que não queres nada comigo. É causa de dor, tenho de dizer que sim, mas é melhor assim do que continuar a iludir-me e imaginar situações que podem nunca ser reais. Sabes que eu prefiro ser directo em todos os assuntos mas há assuntos sobre quais não consigo falar directamente, assuntos que o medo psicológico se sobrepõe à vontade da alma. Erros. Naturalmente. Talvez até defeitos que não quero aceitar. Os medos continuam. Há mais o medo de que penses que sou mais um sentimental, que já te disse que era, e que isso te faça desinteressar ainda mais de mim. Que te faça afastar lentamente para a dor ser menor. Porque, apesar de essa prisão de gelo em que te colocaste por pecados de outros, ainda tens uma pequena fonte de calor a dar aos outros. Até mesmo a mim, a quem conheces há muito pouco tempo.
E continuo a pensar, será tudo uma ilusão? Estarei eu a enganar-me e a ti ao mesmo tempo? Não o quero aceitar mas tenho de enfrentar essa realidade porque é bem sabido que a minha futilidade é grande, por mais que tente afastá-la. Estarei eu a fazer-me de igual a ti para conseguir o que quero? Não gosto dessa realidade porque as minhas palavras não me parecem mentira a mim e pareço conhecer-te minimamente, apenas com aquilo que dizes. Então vem-me à mente a duvida se és tu que estás a fazer-te de igual a mim. Rejeito essa realidade porque já vi a sinceridade nos teus olhos. E apesar de abraçares e acariciares outros, continuo a querer-te nos meus braços à noite para te aquecer quando tiveres frio. Quero-te ao meu lado a todo o tempo para me perceberes e consolares quando me sentir mais em baixo. Mas agora penso que me acharás estúpido apenas por ter escrito isto. Pergunto-me se te aperceberás que este texto é para ti ou se serei eu a ter de te dizer. E aí, como será a tua reacção? Dir-me-às tu que sentes o mesmo que eu ou confirmarás os meus medos? Nenhum dos dois? E a dor aumenta e apercebo-me de que lerás este texto por meu intermédio, porque eu quero que leias e me digas o que te vai na cabeça ou na alma neste momento. Depois desaparecerei se o quiseres. Não sendo drama, não querendo aceitar tal ideia, continuo a pensar que nada será o que quero. Mas continuo a querer libertar-te dessa prisão de gelo em que encontras. Deixar-me-às?
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