quinta-feira, 22 de março de 2007

Sombra de um homem

Que me dirias tu se me visses agora? Fui repartido por todos os cantos do Universo, sem hipóteses de voltar a ser um homem. Tiraram-me o corpo, tiraram-me a alma, tiraram o meu ser da face deste planeta, tiraram-me a vida. Agarrei-me ao que pude enquanto pude, mas a força de vontade cedeu, o poder dentro de mim acabou por sair e toda a raiva que continha em mim foi libertada para nunca mais voltar a aparecer. Volto-me para ti em procura de refugio, de um sítio onde me possa sentir em casa, onde me possa sentir confortável. Os teus braços me rejeitas, a tua boca me afastas, a minha esperança acabas por matar. Fico finalmente à beira mar a olhar para as ondas a romperem e os miúdos a correrem assustados porque, para eles, o mundo pode ser um encanto mas pode também ser assustador. A verdade eles desconhecem e ninguém lhes quer dar a conhecer. Eles desviam os olhos de tudo o que não gostam e recusam de força bruta aquilo que não lhes parece bem. Para eles o mundo é cor de rosa. Para mim o mundo é preto. Tudo me parece mal e tudo o que me diz respeito é a dor e a raiva. Nunca fui aquilo que quis e nunca serei. Agora apenas uma sombra de um homem me resta ser.
Uma sombra de uma mulher me quer. Quer-me realmente ou quer a mulher que a controla o homem que me controla. No chão molhado eu fico quando chove. Quando faz Sol sou eu o que fica no chão quente. Na esperança de algo mais tento fugir mas estou pregado ao corpo. Uma maldição terrível abatida sobre mim pelo pecados cometidos no passado. Mas quem é realmente capaz de dizer o que é pecado? Deus não existe, nem bem nem mal. Apenas exploradores da ingenuidade das pessoas. Pessoas ingénuas que acreditam naquilo que lhes parece mais conveniente. Pessoas que ouviram que o mal existe e que o temem com a pouca força que existe dentro delas. Mudas e surdas elas são quando confrontadas com verdades que não querem ouvir. Porque foram educadas assim, cresceram com essas crenças e devido a essas crenças morreram.
Mais uma vez refiro a dor que me atinge e que apenas faz crescer a raiva dentro de mim. Uma raiva que torna a minha pessoa auto-destrutiva. Nunca uma escapatória à vida de maldição me chegou à mente. Um marioneta às mãos da dor eu sou. Amor, amizade e tudo o que de bom dizem existir faz-me apenas sofrer um pouco mais. Aquilo que procuro não existe e aquilo que existe não procuro.

Sombra de um homem,
à chuva
ou ao Sol,
procura sempre uma saída.

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