terça-feira, 13 de março de 2007

Vil amor

Voltarei qualquer dia a um sítio que desconheço apenas para voltar a fazer o que fiz toda a minha vida. Desesperado e abalado pelas visões que me assombram de dia e pelos pesadelos que tenho à noite. Triste e doente pela falta de mim mesmo na minha consciência e por ter vendido a minha alma ao Diabo. Força poderosa sem dúvida mas não poderosa como tu. Tu metes qualquer homem à venda apenas para te ver mas mesmo assim não te importas nem te culpas do que fazes. Querer de ti apenas um pedaço daquilo que te dou é esperar demais e a dor que segue ao meu lado faz-me cortar os pulsos para não sentir a verdadeira dor, a dor que tu me dás. Invés ao amor que deveria estar no seu lugar.
Choro porque me forço a chorar, amo porque tu me fazes sentir assim e sofro porque não sentes o que sinto. Por cada dia que passa eu penso que estou a um passo de ti e de finalmente ser o que tu és para mim, mas no dia seguinte vejo-te com outra pessoa que me faz parecer apenas mais uma formiga no teu viveiro, mais uma mosca na tua teia, mais um tolo enlaçado pelo teu encanto e que não consegue escapar. Vivo apenas para dizer que vivi mas a verdade é que sofro e, aos poucos, morro e deixo-me para trás.
A minha alma, quase morta, luta para superar a dor que me trazes e tenta apanhar aqueles bocados de felicidade que me dás. Ela sussurra ao vento que sofre mas nada diz ao Sol quando o seu calor chega frio como o gelo de Inverno. Sussurra ao vento que apenas a tua alma lhe trás calor, até nos dias mais frios que passo na rua, até nos dias de calor de Verão e até nos dias de Primavera que trás o vento, seu amigo e confiante, e que deixa o aroma de flores no ar. Quase morta, a minha alma luta.
Passa por mim uma leve brisa que anuncia a chegada da Primavera às terras dos perdidos, onde descanso com os meus olhos a verem o nada e o nada a ver a cor castanha dos meus olhos. Como uma faca, uma folha corta-me no braço, cheio de cicatrizes, e eu, parado, apenas me rio enquanto que as pessoas na rua olham, chocadas e amedontradas, porque não sou politicamente correcto e socialmente demente. Sinto o meu sangue a escorrer pelo meu braço e, com esse mesmo braço, apanho a folha que me cortou e, sem pensar, aperto-a como num gesto de carinho e sussurro um agradecimento pela dor que me deu. Nunca mais olhar par trás, onde a folha esmagada, agora em mil pedaços, dança com o vento alegremente.


Porque és dor,
Porque és amor,
Porque és o que traz dor.

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