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Levanto-me do frio chão que me condiciona os movimentos e não me deixa pensar num plano de fuga do quarto. Uma figura sombria senta-se no chão, por baixo da janela do medo. Parece que não tem face, apenas um corpo morto e vazio por dentro. Pergunto-me se alguma vez teve o que queria. Nunca tinha reparado nele mas também nunca tive uma luz vinda duma janela. Ele deve ter sido o primeiro prisioneiro voluntário deste quarto. Sento-me ao lado dessa figura e espero a conexão de este quarto com outro para poder comunicar com outro ser humano. Ou então que apareça a janela da esperança, algo que me dê forças para sair desta prisão. Até então fico sentado nesta cadeira a escrever cartas de amor a mim próprio.
A minha voz, apenas por mim ouvida, espalha-se pelo quarto mas não passa pela janela aberta que deixa a brisa de verão passar e o som de crianças a brincar contentes, sem saber que futuro lhes é reservado. Por mais alto que grite, por mais perto que esteja da janela a profanar tais palavras, as crianças continuam a rir-se e a divertir-se, nunca ouvindo palavras de tal desespero. Também a minha juventude raramente foi corrompida com palavras de pecados que nunca por mim foram cometidos, porque iriam estas crianças ser obrigadas a ouvir e a ajudar-me? Vou deixá-las brincar com a sua inocência para não terem de ser adolescentes parados, vivos mas inúteis. Portanto a janela esperança será a minha única luz quando a noite se abater sobre mim e o desespero for tão grande que apenas se verá uma luz no fundo do túnel chamada morte.
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