segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Prisão de alma

O meu quarto está escuro enquanto eu olho na noite profunda, com as estrelas a brilharem lá fora. Oiço um chamamento, uma voz encantada que me atrai para o exterior. Fecho os olhos e tento resistir à tentação. Encaro a solidão de bom grado, como que uma companhia sagrada para o meu descanso eterno. Deito-me na minha cama de espinho que me perfuram os meus ossos e carne. Já não me importa a dor, pois a doce melodia que vem do exterior tomou conta do meu corpo e já me raptou a alma. Nada agora me vai salvar nesta viajem para a estrela brilhante no céu.
O negro que antes assombrava o meu quarto é agora apagado pela luz proveniente daquela estrela brilhante. Controla-me o pensamento e apaga-me a memória do meu ser. Há agora a ideia de que nada mais há para esperar que não a desintegração do meu corpo. A incandescente luz ofusca-me os olhos, deixando-me cego momentaneamente. Mas não há ninguém para se preocupar com isso. Sou elevado no ar e levado para outro lugar.
Planto rosas negras no chão do meu quarto e espero que cresçam. Imagino os espinhos que terão, o veneno que libertaram à noite para matar o seu criador, a dor que me irão causar quando nelas tocar. Sorrio, um sorriso sádico, estranhamente habitual em mim. A dor e sofrimento trazem-me satisfação, a morte trazer-me-à a salvação, a sanidade que a minha alma precisa. Esta prisão que é o meu corpo não deixa a minha alma sair.

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